25 de ago. de 2014

Ideias, madeira e tinta.




- por Karol Felicio

Tenho pensado em aprender ilustração e pintura em aquarela.
Penso em escrever histórias infantis,
Histórias que expressem valores de gente do bem,
Com as quais eu possa presentear as crianças que eu amo.

Tento me cercar de coisas belas e acalanto para o coração
Essas coisas se expressam – pra mim - em forma de poesia e arte.
Penso em morar num livro,
Com alguns espaços em branco para desenhar e pintar.

Um lugar onde todas as coisas serão inventadas e feitas pelas minhas mãos.
Ideias, madeira e tinta,
E alguns amigos que vou guardar lá dentro.
Para proteger de todo o mal.









20 de out. de 2013

Sobre o poste




- por Karol Felicio


Amarrei minha alma no poste,
Pensei.
Estacionou, ancorou.
É pássaro de pena molhada, asa cortada.
Mas, não.

O poste não existe. Toda alma é livre!

24 de set. de 2013

A morte do pássaro



- por Karol Felicio


Vida de letras incertas
Há pássaros morrendo em cativeiro
Nem sempre há portas abertas

A gente toma rasteira da rima
Há desenho que a tinta não pinta
Existência em que a caneta não pega

Páginas escritas, empoeiradas, esquecidas, engavetadas.
Tantas páginas rasgadas!
Há livros que se encerram na metade.


A gente não chora. Faz poema com a palavra que resta. 

22 de mar. de 2013

Pessoas-lugares


- por Karol Felicio

Descobri que existem pessoas-lugares, pessoas com quem gosto de estar por esse lugar para onde me levam. Pessoas que me tiram do tráfego pesado, dos engarrafamentos, das encruzilhadas e me levam no colo, me colocam no ninho, num lugar quentinho, no lugar que sou, que preciso (me) revisitar. Pessoas túnel do tempo.
Um lugar de liberdade, acolhimento, fraternidade, lugares que se materializam em algumas pessoas, e a única forma de estarmos lá e mantendo-as por perto.
Aquelas pessoas que, por perto, nos fazem melhores, nos fazem sorrir de dentro, nos fazem nós mesmos. Aquelas pessoas que, para resumir todo esse turbilhão de sentimentos, a gente chama de amor, a gente chama de amigo. E que bela descoberta!

25 de fev. de 2013

O tempo é agora

- por Karol Felicio


É tempo de lavar a alma, mergulhar em mar gelado, salgado, sol quente. Deixar a onda bater sem dó. É tempo de lavar alma respingada de veneno.

Veneno para alma é conviver com hipocrisia, inquisidores, com gente que não aceita o próprio fracasso e busca impiedosamente por quem lhe diminua a culpa. 

É tempo de fechar o corpo, de acionar os anjos da guarda, que estejam de prontidão e nos protejam de todo mal.

É tempo de limpar a casa, de se livrar tudo o que é velho, desnecessário, sem uso.

Descarregar as baterias até zerar e carrega-las novamente à potencia máxima.

É tempo de ser livre para os amigos, o amor, as boas energias e para todo o bem.

Que Deus nos proteja e que assim seja!

6 de jan. de 2013

Esvaziar


- por Karol Felicio 


Cairia bem um filme para chorar,
Escoar, derreter, derramar, vomitar, soluçar.
O que cai mal é sentimento preso, duro, engasgado no estômago. 

27 de nov. de 2012

Cortina

google images



- por Karol Felicio

A tristeza sempre está no encalço do olhar de quem se permitiu viver de fato.

Que ironia essa!

É mais inteiro quem não se entrega.

Sente menos falta quem nunca teve.

Existe sempre um fio de ausência na alma de quem foi livre.

12 de nov. de 2012

Amém, Gil!



- por Karol Felicio


Pra terminar o ciclo,
Pra começar o novo,
Andar com Fé eu vou.

Para inspirar a vida,
Andar para frente,
Andar com Fé eu vou.

Pra confortar o coração,
Pra guiar a gente,
Andar com Fé eu vou.


Pra fortalecer o corpo
iluminar a mente,
Andar com Fé eu vou.

Coragem meu povo, que a Fé não costuma faiá!





20 de ago. de 2012

Cheia de gente

Google



- por Karol Felicio

Minha vida está cheia de gente
Risadas, murmúrios, lamentos, conselhos,
Tem gente, no meu sofá, no meu chuveiro...

Cercada de sons que me abafam,
Difícil é ouvir o meu silêncio
Insuportável é o barulho que faz o que meu corpo fala. 

25 de jul. de 2012

Sobre o Ocaso


Foto: da talentosa Rosi Monteiro


- por Karol Felicio


Quando lhe deixar, não deixarei explicação,
Deixarei beijos e lágrimas,
Tristeza. Interrogação.
Buscarás profundamente
Como foram germinar
Tanta angústia e frustração.
Por amor não lhe atirarei à face
O amargor das minhas verdades
Minha sincera opinião.
A ti restarão lembranças
De risos, cama e de canções.
De mim nada mais arrancarás
- Satisfação ou dor -
Deixarei suposições. 

12 de mai. de 2012

Minhas Teresas



- por Karol Felicio



 Teresa: natural da Terra, linhagem de Guerreiras.


Teresas-Raízes. Simbióticas. Complementares.

Fé de Madre. Força de Teresa – Batista, Cansada de Guerra.

Eu tenho duas Teresas.

Elas pariram meus pais e açucararam quando nasci.




 

 

 

29 de abr. de 2012

Respicere




- por Karol Felicio

Sim, estamos doentes. Cegueira do preconceito, tumor do ego, fraqueza do julgamento.
Estamos embriagados. Tomamos uma dose de verdade absoluta, atacamos o desconhecido, o que tememos ou não dominamos.
Julgamento entorpecente, carente de autoanálise.
Palavras guilhotina. Palavras bumerangue.
Apontamos quatro dedos para nós em julgamentos baseados em puro espelho. O que em nós se ofende tanto? O que em nós reflete tanto? Reflitamos.
Tolerância e Respeito - repete meu mantra interior. Se ainda não estamos preparados para o Amor universal, lutemos por este primeiro passo para a cura.
Respeitar, do latim respectus, particípio passado de respicere, olhar novamente. É a capacidade de olhar novamente, mais vagarosamente o outro.
Busquemos conhecer o que não entendemos. Quanto mais saber, maior compreensão.
Silenciemos. Doença de alma tem cura, mas é preciso olhar para dentro. É preciso olhar profundo. E não recuar. Tem que ser forte, se enxergar pequeno, para nascer grandeza. Grandeza de espírito. Daí brotar amor. Amor generoso, fraterno.
Enquanto esse dia não chega, pratiquemos: RESPEITO.  
E o mundo estará salvo.

8 de dez. de 2011

Perspectivas

Foto



- por Karol Felicio

 

Ando tão inchada de ideias que a qualquer movimento as palavras começarão a vazar por meus ouvidos e olhos. Ou pelo meu umbigo.

Acho que frio na barriga é umbigo querendo vazar ideias. Tantas e indizíveis que dentro de mim viram sons.

Estou uma orquestra descompassada. Vibração de mil tons.

Meu ouvido está aberto demais. Os olhos então...

A vertigem tenta me segurar em terra firme. Com tantos ouvidos e olhos viro balão de gás hélio.

E haja umbigo para esvaziar tanta ideia.

Meu corpo fluido escorre para todos os lados. Um turbilhão de pássaros dança em mim.

Espero por algo que me finque os pés. Como é difícil viver sem eixo!

29 de set. de 2011

Sobre escavar palavras



- por Karol Felicio

Poesia é sentimento em estado bruto, pensamento derramado antes do ponto de reflexão. Ebulição.


O ato solitário. O exercício de inverter-se. Mergulhar cabeça pescoço adentro, vestir-se de sangue quente e pulsação.

Escrever é, antes, escavar a alma e, ainda com as mãos sujas de terra, exibir a pedra sem lapidação. Coração.

Arrancar de si o sentimento e desvirar-se.

Escrever é deixar nascer, jorrar palavras, parir.

O escrito é o alívio pós- orgasmo.

7 de set. de 2011

Sumário

- por Karol Felicio

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Dos capítulos que ainda preciso desenvolver nesse estranho livro de estar vivo.


1. Da incompatibilidade entre viver em sociedade e ser plural

2. Do meu lugar no mundo

    2.1 Encontrar-se

3. “De gente fina elegante e sincera”

4. Inspiração e Boicote

    4.1. Do que – vindo de dentro – fala

    4.2. Do que – vindo de fora – cala

5. De pertencer a um mundo

    5.1. De pertencer a um grupo

6. Da pluralidade

    6.1. Da vida

    6.2. Da alma

7. Do exercício do livre-arbítrio

    7.1. Das conseqüências das minhas causas

8. Do querer

    8.1. Bem querer

    8.2. Mal querer

9. Da coragem

    9.1. Do medo

10. De importar-se demais

    10.1. De importar-se de menos

    10.2. Des-im-por-tar-se

11. Do sexto sentido

    11.1. Das sentidas falhas

    11.2. Do que não faz sentido

12. Da sede por justiça

    12.1. Do respeito

13. Da liberdade como oxigênio

    13.1. Do ciúme como alimento

14. Do (SER) eu (I) negar-se

15. Da culpa

    15.1. Da fala sem freios

    15.2. Da reflexão profunda

    15.3. Do martírio

16. De saber-se plural

    16.1. E única

17. Da vontade de comer o mundo

    17.1. Do cheiro recorrente da morte

18. Do que já sei, como verdade

    18.1. Do que ainda não sei, como lição

19. Da vontade e do medo de estar só

20. De acreditar que “isso de querer ser exatamente aquilo que a gente é ainda vai nos levar além”

    20.1. De desacreditar

21. Do julgamento

    21.1. De quem me leu a contra-capa

    21.2. De quem me dissecou as páginas

22. Do que anseia por compreensão

    22.1. Do que Foda-se!



22 de jul. de 2011

Um bom conselho




- por Karol Felicio

Com o passar dos anos tenho percebido – surpreendida - que os melhores conselhos vêm da minha avó. De outros conselhos, tenho que tirar a casca, a massa de ego, de orgulho, “re-s-sentimento” ou mesmo de sadismo, por que não?

Não que ela seja a dona da verdade, longe disso, abstraio o que nela está enraizado pela diferença de gerações, seus conceitos e pré-conceitos. Mas o que faz dos seus os melhores conselhos é serem despidos desses sentimentos escusos. Poupa-me o tempo de separar o joio do trigo, poupa-me a desconfiança sobre a intencionalidade das palavras, poupam-me palavras carregadas de acessórios. Interessa-me o significado.

A vantagem da avó é poder amar sem a posse que uma mãe, via de regra, tem de sua cria, sem o gozo do filho que vem suprir seus buracos. A minha avó sabe amar em liberdade, um amor que não aprisiona, não sufoca, não quer engolir, não faz do objeto desejado a sua vítima.

Imagine tentar – em vão – sonegar carinho, para que seu neto não sofra caso venha a faltar. Isso, para mim, é amar sem acorrentar. E sobre o deslize embutido nesse ato, alguém já disse “Qualquer erro por amor será perdoado”.

Nem entro no mérito de sua função nesta vida, de sustentar o peso encravado para manter unida uma família, de superar o que parece insuperável e seguir a vida com dignidade, cabeça erguida. E com toda a loucura que lhe é creditada por todos, ainda assim ser a melhor conselheira.

É, tenho desconfiado que minha avó seja minha alma gêmea.

23 de mai. de 2011

Uma canção

- Por Karol Felicio


Recolhe os cacos do chão, encera (até que brilhe), abre a janela

Na terra: planta, aduba e rega

O sol já vem lhe contemplar.

Emoldura esse sorriso na parede, é sua seta.

São tantos planos, ideias, metas,

Rasgue essa roupa, se liberta!

A engrenagem já está certa.

- agora cante uma canção -

A sensação é de que a vida já começa a funcionar.

30 de abr. de 2011

Outono em mim

- por Karol Felicio

Abri minhas portas para Cecília Meirelles e abriguei-a sobre minha cabeceira. Só então consegui enxergar a minha horta, murcha, e perceber que o impulso cego de regá-las diariamente e a todo instante já não lhe devolveriam à vida.


As minhas folhas, há tempos definhando, semimortas, secas, tortas. Minha raiz de tanta água , apodrecera. O sol queimava forte. Tudo era demais para mim. Era muita água e pouco nutriente. Era muito pouco consistente.

Dos meus olhos um filete de água queria sair e as comportas que eu construí já não poderiam suportar. Sabia-me que um rio estava por vir.

Meus pés sobre as folhas secas caminhavam a divertirem-se com os barulhos, rindo da própria desgraça, em círculos.

Nos meus cabelos verdes, pragas. E eu, sem dó, me despetalava. Sangrava pelos meus próprios espinhos, com as raízes fincadas num vaso, apertado, muito prestes a ruir.

13 de dez. de 2010

A respirar seus olhos

- por Karol Felicio


Essa noite
Faremos um pacto de ar e retina
A nos olhar de frente e respirar com calma,
E os olhos cruzados a vazar a alma
Sincronia no ponto de partida
O reconhecimento.

Um pacto de vida
De respirar fundo antes do grito
De perder o ar,
E de suspiros.
De respirar juntos e não sufocar
E, sempre, os olhos cruzados a vazar a alma

Só assim caminharemos o mundo
E não haverá ponto de chegada

21 de set. de 2010

Descolorindo

- por Karol Felicio


O cansaço bateu no relógio às dezoito e quinze. Mas já eram vinte.
Meu relógio atrasou.

Não deu conta de acompanhar meu dia.
E toda essa inquietude de idéias, planos e prazos.

Meu relógio descompassou com a minha velocidade.
O coração adiantou.

Meus batimentos correm mais acelerados que minha vida, que corre mais rápido que meu relógio, que parece caminhar ouvindo pássaros.

Não tenho conseguido ouvir os pássaros.
Nem meus próprios passos. Atropelados.

Meus pensamentos têm corrido num vai-e-vem frenético. Aritmético.
Seguindo em frente. Pulando.

Mal tenho conseguido olhar as cores.
Esse é meu medo.

De tanto correr, que a minha vida fique.
Em preto e branco.

22 de jun. de 2010

A música que não fiz para você

- por Karol Felicio


Você me pede uma música, eu não sei fazer

Não tão bem quanto você me faz

Quando você me faz

Nem tão ritmada quanto o nosso amor

Como esse balanço, e toda essa dança

De quando nos enroscamos

Peles de seda, tecidos que escorregam



Mas quando cai a noite eu sou a letra

E você é melodia

Suave

Ouvidos adentro - atentos - às pontas dos dedos

Deliciosa e silenciosamente

Como o som dos beijos

Dos doces, estalados, demorados, derramados



Mas você me pede uma música e eu não sei fazer

Não tão bem quanto a que a gente faz

Quando você me faz.

11 de mai. de 2010

E sendo eu...

- por Karol Felicio


Hoje eu decidi viver,

Abandonar as neuras, ignorar os traumas, atropelar fraquezas.

Hoje eu decidi viver,

Dar vazão a essa inquietude, essa palpitação, a mim querendo sair.

Hoje eu decidi ser eu,

Me resgatar do fundo, abrir os braços bem alto, dar um grito bem forte, gargalhar.

Hoje eu decidi ser eu,

Viver ao máximo por mim, do jeito que você me conheceu.

Hoje eu decidi viver. Ser eu. Ser mais. Por mim. Para você.

6 de mai. de 2010

Branco

(texto do meu querido amigo e escritor André Rosa, que divido com vocês)

Deu saudade
Agora às três da tarde
Dos beijos dela

Nessa quarta chata
Que mais se parece com um domingo

Deu saudade também das botas da Karol
E das poesias da Karol
E de arrepiar os pêlos ao lê-las
Deu saudade dela também
E de seus acessórios exóticos

Mas deu mais saudade
Da quase namorada
Que foi embora antes de chegar

É o nome dela que ecoa em meus pensamentos
E escrevo para ela que nem vai me ler

E as poesias da Karol heim...
Arrebatadoras
Felício o sobrenome dela

Feliz eu fui à porta do quarto de Cássia
Cujo nome de flor
Ainda me perturba
Porque hoje sou passado
E no livro dela...
Apenas uma página virada
E é claro...
Em branco!


André Rosa

13 de abr. de 2010

Construção

- Karol Felicio

E quando eu olho meu coração [nessa caixinha confortável] já se acalmando pela rotina dos dias – às vezes chatos - pelo “bom dia” e pelo “bom trabalho”, pelo “boa noite” e pelo cuidado, por aqueles dias nublados e todos os dias corridos no calendário, aqueles que voam e os que se arrastaram... Aí vem você - e me engole - com esse sorriso largo, com seus dentes brancos, com seus atos falhos, com todas as suas sardas e todos esses braços. Aí vem você com esse seu abraço. Abrindo aquele vão na espinha, aquele frio gelado. Com todos os seus beijos, com meu descompasso. Vai preenchendo aos poucos todo esse seu espaço, vai me renascendo sem ter me matado, e fortalecendo o que nunca foi fraco, me surpreendendo com um novo ato, um transbordamento em continuidade. Especializou-se em contradizer o tempo da ciência a validade da paixão. Vai me ensinando o que é amor de fato. Vai fixando esse olhar exato - e nos entregamos e nos derretemos e nos derramamos. Meu olhar responde. A gente já pressente esse novo passo.

17 de mar. de 2010

Palavras com Pele

(Poesias com Gosto e Cheiro)

- por Karol Felicio


Palavras tem pele. Palavras são pele.
Palavras tem poros. Minha pele.

Pele macia. Vontade de abraçar palavras.
Pele àspera. Palavras-calafrio.
Pele quente. Palavras que pingam, escorrem
Palavras que afastam quando a pele esfria.

Minha pele por vezes se quebra, descola do corpo, craquela. Dissolve.
É quando as palavras despencam, batem com força no chão, se fundem, misturam.
E viram poemas. Poesia com gosto e cheiro.

Tenho fome de palavra. Respiro. As deixo vir, sem medo.
Cheiro, mastigo, saboreio.
Eu como palavras.
E também cuspo.

18 de fev. de 2010

Convite!

Olá pessoal!
Quero convidar todos para o lançamento do livro Ecos da Alma, uma coletânea de novos autores da qual faço parte com a publicação de três poemas.
O lançamento será na biblioteca Alceu Amoroso, em Pinheiros, Sampa, neste sábado, dia 20, das 15h às 19h. A programação inclui mesa-redonda, declamação de poemas e coquetel.
Beijos, Karol.

10 de fev. de 2010

Ah... o silêncio!

- por Karol Felicio


A gente dorme com fome, come com culpa, vive com pressa, cala com mágoa. A gente deixa passar. Mesmo se a dor não passa.
Ah, o silêncio! Esse bichinho de mãos grandes que abre um buraco entre nós e vai esgarçando o pano enquanto vive. Enquanto a gente morre.

21 de jan. de 2010

Queridos que me leem,

Foto: André Pillmann

Quero dividir uma alegria com vcs... tive a felicidade de ser convidada para ser correspondente da Academia Brasileira de Poesias e, é claro, aceitei. Meu perfil já foi criado no site da Academia e já passei para lá alguns textos meus.
http://www.rauldeleoni.org/correspondentes/karol_felicio.html
Espero que gostem!
Beijos
Karol Felicio

24 de nov. de 2009

No meu passo...

Foto: Tati Pezzin





- por Karol Felicio


Mudei de casa. E senti o cheiro da minha rua pela primeira vez. Tem cheiro de mato cortado. De fato está. E já dá para ver os balanços sobressaindo, e quase dá para ouvir as crianças brincando no parque. Ainda está abandonado, mas ando enxergando além.

Tenho me enxergado colorida, não sei se é do sol ou do espelho. É que tem calor demais em mim. Acho que nem o próximo inverno vai me desbotar.

Eu tenho andado em paz. E só Deus sabe a violência que anda essa cidade. Às vezes me assusto, noutras durmo sorrindo no caminho para casa. Às vezes vou a pé, sentindo o cheiro das coisas. Alguns eu nem conhecia.

É que tenho acordado doce. Meu amor tem tornado meus dias mais doces. Em todos eles, se esforça para me mostrar que estou no caminho certo. Mal sabe ele que isso não me preocupa mais.

19 de set. de 2009

Anjos amor







- por Karol Felicio

Para onde vão as pessoas boas?

Por onde voam os anjos que Deus vem buscar de nós?

Quando um anjo sai da nossa vida deixa um espaço aberto, um vão que venta gelado dentro do coração. A gente não quer deixar, quer voltar o tempo, acordar do pesadelo e, às vezes, quer ir...

Mas a gente fica, segue em frente, a gente renasce, os anjos renascem dentro de nós, nos tornam força, solidariedade, caridade, coragem. Quando os anjos partem nos tornam pessoas melhores.

Missão, destino, dever cumprido, etapa... A gente não entende, sem opção, a gente aceita.

Enquanto o tempo passa aquele buraco enorme vai sendo preenchido por lembranças, por essa onipresença constante, por termos a prova - em muitos momentos - de que eles estão ali, de que zelam por nós, de que somos mais fortes por eles, de que devemos viver por eles, de que o amor é Deus, é benção, é dádiva, que devemos compartilhar, de todo o coração e sem reservas. Esse vazio ainda estará ali, mas será menor. E a gente aprende a viver faltando um pedaço.

Quando sorrirmos, quando lembrarmos, quando uma lágrima cair, quando nos revoltarmos, quando dividirmos com alguém um momento da passagem desse anjo, quando respirarmos aquela paz, quando o amor nos tomar... Ele estará ali, entre nós, dentro de nós, conectados pelo coração, verdadeiro cordão umbilical.

2 de set. de 2009

De uma letra só

- por Karol Felicio

Tenho uma fila de poesias encomendadas que me travam
Textos a quatro mãos, orelhas, auto-retratos, temáticos, cartões
Mas poesia não se compra, não se vende, nem se doa
Meu escrito é egoísta, regurgita,
Meu poema não se come, definha, morre de fome
Meus versos solitários não casam com mais nenhum, não combinam, fogem,
por mais que queiram, secam, só de pensar
Meus versos são como eu. Eu seco. Só de pensar.
Eu minto, invento cores, corações, pavores. Meus versos às vezes doem, às vezes fingem. E minhas letras se unem e mentem por mim. Meus versos mentem, mim que não sou.
E tem quem compre, mesmo que eu não venda.

17 de jul. de 2009

O buraco

Google Images

- por Karol Felicio

Eu cavei um poço na minha cabeça. É para lá que empurro meus pensamentos e caio. Até que a água do fundo vaze pelos cantos dos meus olhos.

Eu crio imagens, jogo de cenas. Vivo num cinema de uma só cadeira assistindo a trailers intermináveis que eu mesma crio para me fazer chorar. Eu não acredito em final feliz.

[Meus pensamentos são uma arma, apontada para a minha própria cara, prestes a disparar]

2 de jul. de 2009

Coisa de Costume






- por Karol Felicio

Ninguém pode só florir
E espero que você entenda
Que os sorrisos às vezes gastam
E só voltam quando querem
A qualquer amanhecer

Não que seja desesperador
- Mas é de esperar -
Um instante até que a janela abra
Até que ela desabroche
Para morrer mais uma vez

21 de jun. de 2009

O que te inspira?

Foto: Rosi Monteiro



- por Karol Felicio

Eu não sei colocar preços nas coisas. Um João me ofereceu “um trabalho independente de poesias com desenhos em nanquim a uma quantia voluntária” eu quis, mas não comprei. Eu não gostaria de por um preço no João.

Também não sei o quanto vale o meu sossego. Mas sei que vale muito. Eu pago caro por você. Você é o escambo que fiz pelo meu sossego.

[No que você pensa enquanto eu penso em alguém que não é você? Normalmente você faz silêncio...]

Eu não tenho tido tempo de pensar. Preciso silenciar, deixar o corpo calar, e parir palavras que derramem no papel.

Hoje eu vi tantas coisas belas, rosas de tantas cores, laranjas amarelas, como nunca as tinha visto. Fluorescentes. Florescendo.

Também tinha um velhinho corcunda, sentado sob o busto de um senhor esguio, numa praça. Seria D. Pedro? Ele usava óculos engraçados...

O que te inspira?

28 de abr. de 2009

Meu Pedaço

Google images

- por Karol Felicio

É tão afinado que não sei se te sigo ou me deixo fluir
É tão perfeitinho que não sei se existe ou fui eu quem pari
É tão combinado que eu já não sei quando é moda
- como “bolsa e sapato” –
Ou se hoje eu queria andar nu e descalço para me sentir livre,
como quando nasci
- mas deve fazer frio assim -

É tão óbvio, certeiro, fácil
É pré-moldado, sob medida, encomendado
É tão inacreditável
Que eu fico a me perguntar
Será que o nosso amor existe
ou foi só uma farsa que eu consenti?

É que quando acordo eu não sei se sonhei ou vivi
É que quando juro eu já não sei se menti
E eu já não sei se fico para o parto ou prefiro partir

É que eu tinha um buraco no peito
Era gelado e doía
- que tilintava -
Você veio ser o pedaço que faltava
Eu aceitei
- nada custava –
Agora já não sei se existo se não for assim

11 de mar. de 2009

Reciclo

- por Karol Felicio

Escrevo no verso de um coração rasgado
Remendo esse papel esgarçado
Começo uma nova história

Em poucas linhas vem página nova
Use a caneta tinteiro quando a certeza chegar
Não rasure nem rascunhe
A vida se escreve uma única vez

Faça pinturas, eu quero cores!
Amarelos brilhantes, vermelho sangue
E desenhe sorrisos, muitos sorrisos

Quando cansar não me guarde na gaveta
Respiro sol, exposição, luz...
Para mais tarde reserve lápis azuis
Quando escreveremos Fim, como nos contos de fadas

E em seu colo pousarei tranqüila e o dia não amanhecerá.

5 de mar. de 2009

Quando a saudade é boa

- Karol Felicio

Saudade que aperta o coração
Mas é aperto de conforto
Não dói
É olhar a cama enorme e achá-la quente,
Abraçar dois travesseiros
Aconchegar-se
É sentir-se abraçado mesmo longe
É quando perto, parecer dentro
E quando dentro nem parecer...
Ser
Eu.

5 de jan. de 2009

Sintomas

- por Karol Felicio

É um buraco negro
Onde nunca assentam as coisas aqui dentro
Onde nunca encontro as consequências para as minhas causas

Dos atos e efeitos...
No cheiro do seu cabelo, a minha cura
Na sua perversão, minha loucura
No imoral, a minha tara
E no rubor, a minha cara

Dos medos...
Num enroscar de braços e pernas e peitos e bocas, da solidão
Num sono profundo, o de acordar
Na abstenção, o de errar
E no excesso, o de faltar

Amo tudo que te faz arder, e me orgulho quando faz doer
Algo assim de rasgar seu peito e entrar, aconchegar
Isso de buscar uma completude, um antídoto, preenchimento
Busca incessante isso
Consome e seduz
É querer mais
Até ser vício

Envolvimento...
É um lugar onde não se vê o fundo
Mas tem vontade de se atirar
É desejo, entrega, vertigem
A gente não sabe onde vai dar
Mas a gente vai.

12 de dez. de 2008

Sempre Sinto

- por Karol Felicio

Sinto sono e saudade
Sinto daqui o cheiro do cabelo do meu irmão
Mas longe de casa tudo é tão tarde
Que mal dá tempo de pregar os olhos

Sempre de saída e sempre atrasada
E passo tantas horas cantando
Que não tenho tempo de lembrar
O quanto sinto falta

Sinto o cheiro de bolo no forno
E o falatório matinal na cozinha
Uma buzina me acorda
Meu destino ficou há ruas atrás

Sempre me falta um abraço
Que soneguei quando estava por perto
E percebi quando já estava um deserto
Nos quilômetros que no peito me apertam

Sinto tudo longe aqui dentro
O coração ta sem lugar para escorar
Sei que ainda fico um tempo
Mas sempre sinto que é hora de voltar.

27 de nov. de 2008

Desvios

- por Karol Felicio

O vicio do amor
A ferida que marca
A marca que dói
A dor que não passa

Dizem que amar novamente sara
E aí a dor pára
E aí incha o peito
E aí mostra a cara

Mas se vem novo amor
É perigo dobrado
Latejar ritmado
Num coração ocupado
- Não lhe dê atenção! -
Aquilo fala baixinho
Aquilo sofre calado

É sorrir ou pesar
É pagar para ver
Ou prazer pra pagar
- caro -
É saber resultado
É insistir em errar
É pegar ou largar

Todo mundo tem um vício
Um fantasma
Um resquício
Uma dor que incomoda
Um machucado que coça
Que é melhor abafar
Porque se começa
Não consegue parar

Mas todo mundo tem balança
Para saber o que pesa
Para saber a que reza
A mente onde vaga
O que o corpo suporta
O que lhe vale a vida
O que lhe conforta a alma

Onde é que lhe toca
Nessa estrada já torta
Mil desvios de rota
O caminho a seguir

A seguir ou voltar.

11 de nov. de 2008

Bode Véio

- por Karol Felicio

Como não podia evitar a queda
Cuidou
Protegeu degraus,
Estofou todos eles
Mandou talhar cúpula de cristal
Para que cair não doesse assim


Pegou-a pela mão
- Não queria que andasse só -
Mandou buscar um bode no sertão
Só para ser diferente dos outros
Seu bichinho de estimação

Comprou, vendeu, trocou, desperdiçou
Atirou uma caixa de tomates maduros ao chão
Para brotar um sorriso, gargalhar

Mandou chamar Luiz Gonzaga só para tocar
Mesmo que fosse muito cedo
Um dia gostaria do baião
Da rede, do cheiro, do xote, do xenhenhen e da sanfona
“Carolina, humm, humm, hummm”

Aborreceu(-se), contrariou(-se), magoou(-se)
Porque ela cresceu, engatinhou, andou
Voou para longe
Mas resignou(-se), acalmou(-se), alegrou(-se)
Porque ela sempre voa de volta

Lapidou uma pedra forte
Daquelas que não se abalam, daquelas que não se apegam
Daquelas que fingem e mentem quando negam
Que a maior queda é ter um dia de largar a sua mão.

3 de nov. de 2008

Brincando de samba

- por Karol Felicio

Me acelera,
Depois acalma o meu desassossego
Quero guardar todos os seus beijos
Perder o senso, soltar os freios
Me desarmar

Me chama agora,
Então me mostra que não tem mais jeito
Que essa explosão aqui bem no meu peito
É um bom motivo para eu me entregar

Me leva longe,
Lá pro seu canto
Praia, sol, sossego
Me mostra o quanto eu vou dormir direito
Na poesia desse seu olhar

Vem amor,
E mata logo toda essa vontade
E ameniza um pouco toda essa saudade
Já corri tanto e agora
- quase tarde -
Eu me redimo só a te esperar

7 de out. de 2008

Descivilização

- por Karol Felicio

Onde confiança não é mais uma constante
quiçá moeda de troca

E a palavra de um homem não vale mais que escambo
com meia dúzia de quiabos

Quero lhe converter de valor em letras
e padecer em poucas linhas, lauda, poesia

E me deitar em tantas camas quentes
até que a sua esfrie, que nem me lembre

Quero mergulhar em tantas quedas d’água
que meu corpo limpe, até que me levante

E correr quantas léguas que minha alma acalme
Estire.

À sombra de uma copa larga, pingando mel de uma fruta farta,
que minha boca adoce.

E eu descanse.

10 de set. de 2008

Mantenha




- por Karol Felicio

Não se aproxime
Eu tenho espinhos
E acredite
Eles te sangram
Porque meus ressentimentos são mil flechas afiadas
Lançadas
E cada rosa que eu encosto despetala
E cada peito em que me deito dilacera

Eu tenho pressa em juntar meus cacos
Por isso corro, eu atropelo
Sigo caminho, choro os vestígios
Mas não olho para trás

Talvez assim, correndo tanto
O vento bata, e a dor abrande
Talvez por ter-me ofuscado os olhos
Eu não te enxergue nem a ninguém

Levam-me os pés que correm tanto
Nas pedras mil desse caminho
E vou seguindo assim sozinho
Desencantando uns outros tantos.

20 de ago. de 2008

...e quero assim

- por Karol Felicio

Quero alguém que decifre as minhas músicas
Que desvende os meus segredos
E venere os meus mistérios

Alguém para estancar todo esse sangue
a sensualidade contida e esse desejo que verte
e não encontra calhas onde escoar

Quero que percorra meus sons com os dedos
Que adentre essas cavernas
Que descubra esses caminhos

Alguém que termine as minhas deixas
Que, a cada frase que irrita, me complete
E a cada poro que grita, me liberte

Quero bom dia e a vontade de querer o dia inteiro
Quero gosto e quero cheiro
Quero toque e quero pele

Mas não quero tudo assim, exposto
Eu quero em partes, em etapas
E também não quero parte
Eu quero alguém. E quero inteiro.

10 de ago. de 2008

Horário de almoço

- por Karol Felicio

E vem assim sem nem licença pedir
Me olha assim
Como me fosse despir
As borboletas do estômago...
Chego a senti-las
Do estômago ao corpo inteiro
À flor da pele
E desconcerto
Mil mãos eu tenho e não sei onde enfia-las
E mil direções onde meu olhar não pára
Me dói o peito
De querer ficar mais
Mais um segundo
E já se vai
E esses minutos diários já não me bastam
E esses encontros casuais...vitais
Sem saber sua voz
- nem mesmo seu nome fala –
Mas a mão esquerda pesa
Não sei se por amor ou fardo
[E me dói mais]
Como posso senti-lo tanto
E não posso tocá-lo?

1 de ago. de 2008

Indigesto

- por Karol Felicio

Pobre da poesia que nasce na morte do amor
E daquela música que sorria
e agora toca e dói
Aquela foto que rasga e sangra
e aquela cama que chora e chora


Pobre do poeta que se alegra com a arte que faz
do estrago do seu próprio amor
Pobre do leitor, que admira a dor, mastiga as vísceras do poeta,
essa tristeza indigesta, engole num copo d’água,
fecha a tela, vira a página, sai, e nem olha para traz


Pobre dessa gente, por toda parte, que se ressente
A garota que dobrou a esquina, o moço que fechou a porta e afrouxou o nó da gravata,
Aquela senhora que passa, aquele menino que cala
Se quiser alegria dirija-se ao guichê ao lado
E tudo isso é matéria prima, vai dar à luz a algumas linhas, que, por hora, nem da gaveta saem

A gente produz muito lixo, anda descalço no esgoto
A gente faz amor com a peste, para nascer algo que preste
E às vezes a gente joga pérolas aos porcos
A gente escreve
E espera que alguém goste, ou que alguém deteste
Mas espera que alguém leia.

22 de jul. de 2008

Mais uma noite... à toa

-por Karol Felicio

A noite cai
Escura, gelada
Os 12º graus de sempre

O chuveiro quente
O corpo ferve
Aromas, vapor

Banheiro escuro
À luz de velas
Os olhos fecham
A mente voa
A boca pede
Mais uma taça de vinho à toa

Tinto
Vermelho da boca
O sangue esquenta
O frio da espinha sobe
O da barriga desce
E transborda

Uma onda de calor toma
Todo o corpo, todo o copo
E a garrafa seca
E molha, não nega

Lá longe a música
Toca, e toca
Um Chico à toa

A poesia voa
Não se prende no papel
Acalma a mente
Liberta a alma
De uma eterna espera
De não se sabe o quê

E o corpo estira
E a cama abraça
E o sono chega
E ela apaga

Mais uma noite boa
Uma noite à toa
Que acaba.

18 de jul. de 2008

Tanto faz

- por Karol Felicio

Não espero que você me ligue
Nem espero que reconsidere
Um passo mal dado, um impulso, um tropeço

Eu dispenso a reflexão
- sem mais delongas –
E disperso pensamentos-círculo
Eu me impeço de ser sensata e me safo desse martírio

Um ano ou uma noite
Sempre têm o mesmo fim
- final –
Feliz?
Nem sempre, nem me importa
O desfecho é sempre o mesmo

Então sem dramas, sem volta
Sem discursos treinados e devaneios chatos

O primeiro erro, a primeira noite
É pressuposto de um erro prolongado
Não espero que você me ligue
De qualquer forma não vai dar em nada

9 de jul. de 2008

Disposição

- por Karol Felicio

O amor, raízes fortes
Não me esforço, mas recebo água e luz
E me disponho a que ele brote
Disponho-me a sorrir, a conhecer, a chorar de dor
- porque dor de amor dói, mas é doce... –
E me disponho ao toque

Disponho-me a me expor, a conhecer
A te reconhecer em mim
- quem sabe –
E a me reconhecer em você

E de que vale tudo isso senão um renascimento a cada fim
E a cada chuva fina, a cada brisa, a cada dia, as folhas renascem
E a tarde cai, sorrindo
E a noite, menos fria
Então por que não receber?

Ah vida! Motivo melhor para viver?
Sorrir, sofrer, morrer, redescobrir, renascer
Por que não me disporia a você?